quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Liberdade... - Fernando Pessoa

Pode parecer irônico, mas desde criança memorizei um poema de Fernando Pessoa chamado "Liberdade", onde um dos versos diz assim:

"...Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada..."

lembro de tê-lo visto no meu livro de português da quinta série, belo começo para o blog hein rsrsrs, mas e você, o que considera como liberdade? E eu?

Se delicie um pouco com este presente:


Liberdade


"Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

                        Fernando Pessoa"

3 comentários:

  1. Para mim, Liberdade é fazer o que nos apetece, quando nos apetece, fora do que foi livremente acordado com os outros - e que pudemos acordar sem nenhuma coação, de qualquer tipo...

    E, por isso, também a Liberdade de estudarmos o que quisermos, quando quisermos.

    Lembro-me também, muito bem, da passagem que você cita nesta colocação... Mas, a minha atenção nas aulas de português era tanta, que já nem me lembrava/sabia que era daquele que se viria a tornar o meu poeta favorito. :)

    Lembro-me muito bem de, no meio da tortura mental que era estar nas secantes aulas de português, que em quase nada me interessavam, ler isto e de pensar: "Pois... E eu, para aqui, a ter de estudar o a que os outros me obrigam..."

    Boa citação, da parte de quem também parece amar essa mesma Liberdade.

    E, muito bom gosto, no poeta escolhido.

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    1. Obrigada Fernando, fico muito honrada com o comentário, e concordo contigo, chega a ser irônico estudar sobre Liberdade justamente quando a realidade do momento não reflete o aprendizado. Mas quando crescemos, lembramos que esses momentos e essas aulas em sua maioria são situações muito parecidas com nossas mães nos obrigando a comer salada kkkkk no momento não entendemos como aquela coisa amarga pode nos fazer bem, mas hoje sabemos o quão importante e benéfico é.
      Se não tivéssemos tido as aulas chatas com poesias não tão interessantes, talvez nunca teríamos sido apresentados aos textos e conteúdo que mudaram nossas vidas e fizeram a leitura valer a pena ;-)

      obs1: Atualmente utilizo o seguinte blog para registrar os livros que leio http://leiomesmo.com.br/

      obs2: Também gostei muito do seu blog, sempre bom ver outras perspectivas bem escritas e fundamentadas sobre assuntos ignorados por alguns e sentidos por todos. Parabéns e obrigada pelos comentários.

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    2. Sobre o sistema de ensino que temos...

      Eu, se, já na altura em que era uma "vítima" do mesmo, não gostava dele - pelo quão desrespeitador era da minha vontade e pelo quão castrador eu constatava que ele era da criatividade - depois do que sei, hoje em dia, sobre as suas origens, tornei-me um ainda mais forte crítico do mesmo.

      http://forum.prisonplanet.com/index.php?topic=98774.0

      E, se é verdade o que você diz, que, para chegarmos ao conhecimento mais útil e mais interessante, temos (quase sempre) de passar também pelo que menos interessa, também eu disso tenho muita consciência, quando estudo por mim próprio.

      O que eu acho que deve ser mais feito, em alternativa, é (a partir de uma idade em que tal comece a ser possível) consciencializar as crianças disto mesmo e fazê-las ver que, se é cultas e inteligentes que querem ser, terão de fazer um esforço para aguentar algumas coisas mais chatas - e depois deixá-las seguir o seu próprio rumo, estudando o que mais lhes interessa, conscientes de que, se há certas funções que querem desempenhar, terão de prestar depois provas dos seus conhecimentos.

      E, se há quem pense que uma alternativa destas não resulta ou é utópica, é só ver os resultados de certas escolas mais livres, que são montadas por pessoas que pensam deste modo. Em que as crianças que de lá saem (por serem forçadas a pensar muito mais por si próprias, no decorrer do seu processo de autoaprendizagem) são, claramente, muito mais inteligentes do que as que são sujeitas ao convencional sistema de ensino - assim como, muito mais responsáveis e sem os problemas típicos da juventude "disfuncional" que é produto do sistema de ensino oficial.


      Mas, sobre o que você disse...

      Sim, apesar de tudo, consegui também eu tirar alguns benefícios do sistema de ensino por que passei - e ficar a conhecer o grande poeta que foi Fernando Pessoa. ;)


      Obrigado pelos seus elogios, quanto à minha publicação.

      Estou também já a espreitar esta sua nova, que me indica.

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